/ / Donizete: “a força do sindicato é a união de todos, não adianta só uma diretoria lutar sozinha”

Donizete: “a força do sindicato é a união de todos, não adianta só uma diretoria lutar sozinha”

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A edição de agosto do Infoserv, primeira após a posse da nova diretoria, traz uma entrevista com o presidente reeleito do SSPV, Donizete Vicente, que faz um balanço das últimas gestões e projeta as próximos lutas. As lembranças vão desde o enterro simbólico do ex-prefeito Milton Serafim até a queda do Decreto da Maldade.

Infoserv: Como era o sindicato antes de 2012?

Donizete: A gente estava diante de um sindicato que não tinha ação. Só tinha assembleia para tirar pauta de reivindicação. Depois já combinavam com o patrão, chegavam os índices e não tinha discussão. Isso foi trazendo indignação para algumas pessoas. Eu e alguns companheiros que participávamos das assembleias ficávamos indignados. Quando chegou a data da eleição, resolvemos montar uma chapa para concorrer. Foi uma luta muito difícil. Na primeira reunião, tinha duas pessoas. Na segunda, tinham três: Débora, Conrado e eu. Fomos correndo atrás de companheiros para montar a chapa. Eu falei com vários do SERM; a Débora, da Educação, o Conrado, da Câmara. Até no último minuto foi difícil. Eles apostavam que a gente não ia conseguir inscrever a chapa.

Partimos para a eleição, sem muito dinheiro para gastar, apenas no corpo a corpo na base. A baixa popularidade da antiga diretoria facilitou, em parte, a renovação. Ganhamos a eleição e tivemos que começar toda uma luta. Eles não fizeram uma transição aberta. Chegamos e só tinha uma funcionária que não sabia informar nada. Eles desconfiguraram os computadores e ficamos sem nenhuma informação. Demorou quase três meses para acessar a conta do sindicato.

Tinha um advogado com contrato leonino¹, com confissão de dívida de R$ 230 mil do sindicato para ele. Isolamos, não soltávamos processos para ele, mas tinha que pagar o contrato. O advogado Vinícius Cascone começou a trabalhar para a gente, ficou quase seis meses sem cobrar um tostão. Depois achamos uma falha no contrato do advogado antigo e conseguimos romper.

Tinha duas salinhas bem pequenas, na rua Jundiaí. O advogado ia atender e a gente tinha que ficar para fora. Conseguimos alugar esta casa ampla em que nós estamos. O advogado atendia uma vez por mês, das 9h ao meio-dia. O Vinícius Cascone passou a atender duas vezes por semana, quarta e sexta-feira, das 15h às 17h. A demanda era grande, mas conseguimos dar conta.

E aí fomos ganhando a confiança do pessoal. Termina o primeiro mandato e não tivemos chapa concorrente. Ninguém quis inscrever chapa. Fomos para o segundo mandato.

Infoserv: A primeira gestão foi de reorganização então?

Donizete: Nós colocamos uma frase desde o começo que era “Reorganizar, Lutar e Avançar” e o primeiro mandato foi para se reorganizar mesmo. O dinheiro foi para reorganizar a sede, a questão do jurídico. Mas também começamos a fazer luta, indo para a base, nos locais de trabalho. Fomos nos reorganizando e também mobilizando a base. Já em 2013 fizemos várias manifestações na Câmara, passeatas nas ruas. Fizemos o “enterro” do ex-prefeito Milton Cruz.

Infoserv: Como foi isso?

Donizete: Aqui o piso salarial era muito baixo para uma cidade que tinha fama de grandes condomínios. Nós colocamos um outdoor com o salário do prefeito e o piso salarial do servidor. Isso irritou ele, foi para a televisão e o rádio xingar a gente. Mas conseguimos mobilizar o povo e juntamos mais de 400 pessoas em passeata até a prefeitura para fazer o enterro simbólico dele. Não demorou muito e ele deixou o mandato, passou para o Jaime Cruz, para não ser cassado. Ele estava envolvido em vários processos de corrupção.

Infoserv: E como ficou o piso?

Donizete: No ano seguinte conseguimos um aumento diferenciado para o piso, que deu uma melhorada. Houve uma proposta com aumento real e aceitamos.

Infoserv: Na segunda gestão, a principal luta foi contra o ‘Decreto da Maldade’?

Donizete: Foi o que pegou, porque veio para arrebentar o funcionalismo público. Desde o começo, não aceitamos e fomos mobilizando, ganhando força. Foi um ano de luta. Depois da campanha salarial partimos para cima com tudo, com outdoors, e acabou dando certo quando caiu o Decreto da Maldade. Era muito pesado para o servidor. Você ia na base e via gente trabalhando com atestado no bolso, com pé machucado, muitos com depressão. E quando perdia o ticket era 25% a 30% do salário. Foi muito cruel e indignou muito.

Infoserv: A vitória deu moral para a luta dos servidores?

Donizete: Só não viu quem não quis que, realmente, a luta vale a pena. A gente ainda tem dificuldade para mobilizar porque a cidade vem de uma história de coronelismo e clientelismo. Por exemplo, em campanha salarial, fazemos assembleias com pouca gente, em comparação ao tamanho da base. Mas mesmo assim conseguimos vitórias importantes e evitamos retrocessos.

Infoserv: E para os próximos meses qual é a principal pauta à vista?

Donizete: De início tem a demanda da mudança para o estatuário, que é um anseio de muitos servidores e também da prefeitura. Acho que isso tem que sair. Mas tem que sair da forma correta. Porque eles tentaram fazer uma comissão toda errada, com vários cargos comissionados, e nós conseguimos uma liminar na Justiça para interromper o processo. Agora o prefeito fala em fazer uma comissão baseada na Lei Orgânica. O que nós estamos pedindo é que seja realmente democrática. E que cada secretaria tenha suas demandas contempladas, com representantes próprios, porque cada uma tem sua particularidade. A Lei 112 é um esqueleto do que deve ser o Estatuto. O problema é que hoje eles não cumprem várias cláusulas, que precisamos entrar na Justiça para cobrar.

Infoserv: E essa história de privatizar a Sanebavi?

Donizete: Não temos nada na mão, mas, como diz o ditado, onde fumega há fogo. Já precisamos trabalhar contra mais esse possível retrocesso. A Sanebavi é a única empresa da prefeitura que é superavitária e a privatização só traz precarização do trabalhador.

Infoserv: A mobilização dos servidores será muito importante…

Donizete: A gente não esquece nunca da nossa frase “só a luta muda a vida”. A gente tem tido essa experiência à frente do sindicato. A última foi a queda do Decreto da Maldade e do criador do Decreto, que foi junto. A gente sabe que a mídia busca ofuscar a compreensão do trabalhador, falando que tudo está ruim e não vale a pena lutar. Mas foi a luta que derrubou a ditadura e fez a Constituição de 88, que agora está sendo rasgada.

A gente tem que dar o recado de que temos que nos unir mais. Se estamos conseguindo algumas coisas mesmo do jeito que estamos, se o servidor realmente se unir e participar mais das atividades… Nada cai do céu. Tem gente que pensa que “você vai mudar por mim”, mas o sindicato somos todos nós. A força do sindicato é a união de todos. Não adianta só uma diretoria lutar sozinha.

¹ Contrato leonino feito de má-fé, com o intuito de gerar enormes benefícios para um dos lados da relação, lesando os direitos da outra parte.

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